No meio do caminho tinha uma pedra,
tinha uma pedra no meio do caminho.
No meio do caminho tinha uma flor, uma árvore.
Tinha uma flora no meio da mata.
No meio da mata, tinha uma vaca, um cavalo.
Tinha uma fauna no meio do vilarejo.
No meio do vilarejo, tinha uma casa, uma escola.
Tinha um povoado no meio da cidade.
No meio da cidade, tinha uma criança, um idoso.
Tinha um ser humano no meio do desastre.
No meio do desastre tinha um rio,
tinha uma bacia hidrográfica.
Tinha uma vida no meio de tudo.
No meio de tudo tinha uma legislação frágil,
tinha uma fiscalização acanhada.
Tinha meio Poder Público.
No meio de meio Poder Público tinha uma empresa portentosa,
tinham interesses grandiosos.
Ah! Drummond! Na vida de nossas retinas tão fatigadas, esse acontecimento não poderá mesmo ser esquecido. Oxalá, desse mar de lama, emerja, ao menos, uma legislação robusta e uma fiscalização comprometida para que, um dia, todas as pedras do meio de caminho sejam só as pedras da sua poesia.
Primavera,2015
Foto: Google Imagens
Martha Gonzalez escreve quinzenalmente aos domingos