(Por Roberto Garcia Simões)
Senti a mente túrbida ao imaginar os cálculos dos danos, das indenizações e das multas por conta da lamarco – maior tragédia socioambiental do Brasil. Como fazê-lo para as vidas e para as histórias mortas, agonizantes e afetadas em diferentes espaços? Pelo mercado? O desastre é “compensável”? O que é (ir)reversível? Por quanto tempo a cadeia de destruições prosseguirá? O que dizer das “profecias” de que a “recuperação” se dará em 10 anos, ou em 20 anos? Acalmam?
Na trajetória do lamicídio (300 litros de lama por habitante do Brasil), começo por Mariana:
1. Mortos e desaparecidos. Quanto 11 mortes valem? Os idosos são mais baratos que as crianças? Depende da expectativa de vida soterrada e da projeção da renda cessada? Para os 12 desaparecidos, como não há documentos, será estipulado um custo médio? A inexistência de certidão de óbito dificultará as famílias receberem o dinheiro? Será necessário entrar na Justiça? Haverá pensão? O apoio imaterial para o luto precisará de luta? Quanto vale a angústia de procurar e não encontrar o ente querido? Que Natal e Ano Novo!
2. Sobreviventes. Qual o valor dos incômodos das mais de 600 pessoas que estão em hotéis, ou na casa de parentes? Quanto será pago pela casa, pelo comércio e pelos bens? Será preciso comprovar o tipo da casa e dos pertences? Só conta a dimensão física? Mas os documentos não estão debaixo da lama? Qual é o preço da memória familiar e das histórias de vida pessoais enlameadas? E de bens de estimação, como um cachorro?
3. Povoados banidos do mapa. Como será precificada a aniquilação dos significados históricos e da praça, das igrejas, do comércio, do cemitério? Quanto custa o sorriso da moradora que resgatou uma imagem sacra? As pessoas sofrerão mais uma dor simbólica de uma imposta mudança de vida? Resistirão? As crianças e adolescentes ficarão sem aula até quando? Qual é o montante dessa perda?
4. Água. Qual é a conta da água desperdiçada nos 60 bilhões de litros de lama? E da que continua na iliquidez atual, pois as empresas não usam a tecnologia a seco por não ser tão lucrativa?
5. Terra rejeitada. O solo que sofreu o aterro esterilizante será recuperado? Há recurso técnico, mas dirão que não tem viabilidade econômica?
6. Risco de mais lama. O temor constante das pessoas na região com a possibilidade de rompimento de mais barragens da Samarco quanto vale? Sirenes? Haverá seguro pessoal?
Quanto dá o cálculo desse primeiro subtotal da lamarco a ser pago pela Samarco?
Foto: Portal Brasil