— Firmeza, Papai Nué!
— Quem tecla?
— Deixa de onda, Nué! Diz aí: a mercadoria vai ser entregue na data?
— Quem tá teclando? Deve haver algum engano. Não tenho seu número.
— Num enrola, véio! Que qui tá pegando, Papai Nué?
— Primeiro, não é Papai Nué! É Noel. E, não sei do que você está falando. Sou contador, não entrego mercadorias.
— O número do telefone é esse mermo… Ah! Intendi, a senha é Noel, certo? Contador? Essa é boa, Noel! Só se for contador de história nas hora vaga.
— Nas horas vagas, faço trabalho voluntário na Igreja. Vou sair do zapzap. Você está me confundindo com alguém.
— Caraio, véio! Vem de caô, não! Já depositei a bufunfa na tua conta. Quero minha mercadoria ou te dou um teco. Tô na tua cola.
— Calma! Senhor…?
— Que mané, senhor! Ô, Noel, pôrra! Já mandei a grana. Só tô querendo saber quando é que chega a dona juanita e a farinha mágica? Tô cheio de encomenda pro Natal!
— Não conheço essa senhora e que farinha mágica é essa? Não sou padeiro, nem vendedor. Encomenda para o Natal? Você acha que sou Papai Noel?
— Tá me tirando, mano? Num tenta me enrolar, não! Tu é Papai Noel, sim, o dono do morro. Prestenção: não sou nenhum duende babaca, pôrra! O Zé das Cobras me garantiu que o negócio com tu era seguro e agora cê tá vindo com esse agá! Quero minha mercadoria! QUERO MINHA MERCADORIA! E QUERO JÁ!
— Não sei quem você é, mas ficou claro que não é meu amigo oculto, e, claro, não pode ser um duende. Com essa afetação, está mais para a rena que puxa o trenó.
— Cara, tu perdeu a noção do perigo! Já mandei pro cemitério muita gente por bem menos. Melhó botá suas barba de molho e entregar logo o que me deve!
— Hô, hô, hô, hô! Não tenho medo de suas ameaças. Olha, vou desligar. E não me enche mais. Sou Papai Noel, mas até meu saco tem limite. Se me perturbar de novo, vou colocar a Polícia nessa história, sacou? Aí, na prisão, dormindo com os bandidos, vai descobrir o que é uma noite feliz.
— …
— …
— Amor, com quem você tava teclando?
— Com um mané recomendado pelo Zé das Cobras. O panaca depositou adiantado na minha conta, e, agora, tá cobrando a mercadoria. Há, há, há! Fingi que era engano. Disse que eu era contador e fazia trabalho voluntário para a igreja.
— Há, há, há! E ele acreditou?
— O cara acredita em Papai Noel, você quer o quê?