A pessoa mais fotografada do mundo

Quem é a pessoa mais fotografada do mundo? Consegue imaginar? Imagine! Posso dar uma pista: mora em Nova Iorque. Madona vive lá?  Não sei, mas não é ela. Donald, o simpático, você sabe, na Disney. O outro Donald, menos engraçado, fica mais tempo em Washington. Sim, concordo com você: não é o Woody Allen. Mas é homem!

Melhorou ou piorou? Se não piorou, agora, vou pirar sua cabeça. Se já esteve na Big Apple, é muito provável ter trazido uma imagem dele. Arrisco afirmar: até postou no Instagram, ou no Face, embora não saiba nem como se chama. Essa certeza elimina aquele cantor maravilhoso ou o astro de cinema admirado, certo?

Ok! Vamos acabar com a brincadeira: a pessoa mais fotografada do mundo é o porteiro do Edifício Dakota. Sabe por quê? Ali, na entrada do prédio da Rua 72 com Central Park West, em Manhattan, John Lennon foi morto, em dezembro de 1980. O lugar é visitado por todos que chegam àquela cidade.

Imagine! São centenas, milhares de cliques por minuto, de todos os lados, dia sim outro também. A cada instante, ônibus lotados despejam dezenas de turistas na calçada em frente. Muitos chegam de metrô. Outros, a pé. É comum hordas de fãs dos Beatles juntarem-se aos grupos de japoneses, chineses…

As grandes atrações turísticas do mundo não têm porteiro. Torre Eiffel, Estátua da Liberdade, Cristo Redentor etc. Este, do Dakota, é mesmo uma figura carimbada, não? Engraçado é que há uma pequena guarita dourada na portaria. Mas não se sabe se pelo tamanho dela, ou pelo dele, o fato é que ele não a utiliza. Está sempre do lado de fora.

Será vaidade? Calor não deve ser. Dizem que está sempre sorrindo. Seria o salário, em um prédio cheio de celebridades hollywoodianas? Ou ele somente quer sair bem na foto?

O comportamento dos fãs, no entanto, não é assim constante, sofrendo variações. Em comum só todos fotografarem muito. Alguns puxam papo. Dá para imaginar quantas vezes por dia o homem responde perguntas como “A Yoko ainda mora aí?”, “Em que andar?”, “Ela está em casa?” Haja paciência!

Pois é! Vez ou outra, chega um mais exaltado. Contam que, certa vez, um fã de John Lennon quis tomar satisfação: “Onde é que você estava naquela noite que não viu o assassino se aproximando, hein? ” — berrou. “Calm down, sir” respondeu tão elegante quanto seu uniforme.

“Provavelmente, vendo a televisãozinha que colocaram na portaria” — continuou o sem noção. “Ou cantando alguma empregada, não é?” Como a segurança chegou rápido, o aporrinhador gritou, acuado: “Help! I need somebody. Help!” Mesmo assim, foi contido.

Alguém deve ter exclamado: “Dê uma chance a paz!” E estas palavras acalmaram todos e tudo acabou bem. Let it be. O fato: esse porteiro, de certa maneira, é invejado por várias celebridades, inclusive as que habitam o prédio. Ele vive o sonho de todo artista bem sucedido.

Fotografado e admirado o tempo todo em que está trabalhando, depois de deixar seu pequeno palco, ninguém mais o importuna. Sai dali, caminha tranquilamente pelos arredores, pede um sorvete de strawberry numa carrocinha, sem acontecer nada. Pode, imagine você, até se dar ao luxo de frequentar a padaria da infância só para ter certeza de que o sonho não acabou.

Martha Aurélia Gonzalez escreve, quinzenalmente, para o Clube.

Imagem:theapartament.global.net