Pensei em lhe escrever sobre saudade, mas veio uma dor no peito tão forte que deu até dó de compartilhar com você. Depois, me veio à mente a liberdade. Todavia, o termo é tão complexo que é melhor deixar para outra ocasião. Assim, me restou refletir sobre os seus cinco anos de existência.
Pois é, meu caro Clube! Parece que você já nasceu velho. Ou melhor: veio ao mundo carregado de muitas responsabilidades e, ao mesmo tempo, sem pressão para ser reconhecido como legítimo primogênito escritor. Talvez porque você seja apenas a manifestação virtual daqueles dedicando-se às palavras escritas. Você ainda não se materializou livro, mas veio ao mundo para entreter os leitores.
Seu alimento favorito sempre foi a criatividade temperada com imaginação, inspiração, gramática, ortografia, vocabulário… Contudo, a quantidade de conhecimento depende muito do gosto e humor de quem prepara os seus textos. Na cozinha da criação, não há caderno de receitas. Talvez, por isso, as refeições tão imprevistas.
Ultimamente, você tem sofrido com a escassez de ingredientes. Sinto muito. É apenas consequência do atual momento vivido por suas três madrinhas. Todas estão passando por situações avessas bem delicadas e, parece, para se protegerem — não se sabe bem ao certo de quê, quiçá delas mesmas — esconderam os mantimentos em lugares tão sombrios que, agora, estão tendo dificuldades de encontrá-los.
Confesso: por mim, dos meus sustentos encontrados, boa parte necessita ser limpo e posto ao ar livre. Muitos deles, guardados em compotas, ainda preservam o frescor e podem ser digeridos sem cozimento especial. Outros precisam serem depositados em uma marinara por algum tempo para, depois, serem levados ao fogo brando, passando outro bom período em cozimento, e então serem ofertados como possível iguaria.
Às vezes, tão distraída e perdida em pensamentos, tropeço em algo pelo caminho e derramo tudo pelo chão. Daí, perco o meu alento — talvez até o seu. Já tive muita raiva de mim mesma por não ser consistente com as minhas promessas de cuidar de você. Mas, adianta? No final das contas, o aborrecimento com a irresponsabilidade só me traz mais amargura e falta de tempero para nossas próximas refeições.
Bom! Eu só gostaria de pedir para você se manter vivo. E, claro: este pedido tem mais a ver com suas madrinhas do que com você mesmo. Porém, apesar dessa escassez de cardápios, chegar aos cinco anos de idade é ter nutrientes necessários para continuar sobrevivendo por meio de ideias, memórias e reflexões de vida. Ainda bem que sempre aparece uma amiga ou um amigo oferecendo algum tipo de nutrição para você.
Mesmo existindo resistência para transformá-lo em memória material e imaterial, seu padrinho te cuida sempre com tanto carinho, ajudando a conservar sua essência enquanto narrativas. Afinal, são dessas a proveniência do seu sobrenome de Crônicas.
Clube, a sua origem continuará sempre um mistério para nós. Mas posso lhe assegurar: uma de suas madrinhas lhe quis adotar com tanta vontade que foi impossível não compartilhar daquele gesto de amor tão puro. Por isso, você está aqui conosco, nossa fonte de alegrias. Então, mesmo sem termos feito nada para comemorar este seu quinto natalício, somos gratos pela sua essência e escrevo aqui nossos votos de feliz aniversário!
Julho de 2020
Edsandra Carneiro
Foto de Nikhita Singhal em Unsplash