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Sentaram-se lado a lado na mesa da sala de jantar. O filho respirou fundo e o velho fez um muxoxo com a boca.

— Pai, a primeira lição é: não tenha medo da máquina. O computador é burro, entendeu?
— Então, a troco de que vou ficar perdendo meu tempo na frente de um equipamento assim? — respondeu o velhinho olhando o notebook com irritação. E completou: “Tô indo jogar meu baralho.”
— Peraí, pai. Só estou dizendo que é você quem está no comando. Vamos lá. Você precisa se atualizar. Vou abrir a Internet.
— O que é isso mesmo?
— É a rede mundial de computadores. Com ela, você pode ter acesso a muita coisa interessante de todo o mundo.
— O que me interessa, fico sabendo, na hora, com o pessoal do carteado e meu gerente do banco.
— Pai, estou falando de algo bem maior. O Google, por exemplo, é um site de busca. Olha só! Basta digitar nesse espaço o assunto de seu interesse e ele traz todo tipo de informação relacionada. Não é legal?
— Parece bom, mas eu preferia…
— Deixa de ser teimoso, velho. Vou lhe ensinar a navegar na Internet e aproveitar as coisas boas da rede.
— Filho, nunca gostei de navegar. Enjoo… Eu vou é encontrar com meus camaradas.
— Navegar é só uma expressão. Aqui também se encontra muita gente. Vou abrir meu Facebook. Nesse espaço, meus amigos postam fotos, mensagens…
— Quanta foto de animal. É um grupo de veterinários?
— Não, pai. Eles gostam de bichos. Coincidiu. Vou rolar a página.
— Pelo jeito, o carinho é só para alguns; outros, eles comem, né? Aliás, devem ser obesos. Quanta foto de comida! Se estão tão focados em registrar, em vez de saborear, quando vão comer, o prato deve estar frio, a bebida, quente e o sorvete, derretido. O que me interessa saber o que alguém almoçou? Que graça tem isso?
— Errrr… Tem coisa mais interessante. Olha a foto dessa festa. É a Heleninha do meu tempo de ginásio. A gente voltou a se relacionar. Agora, é minha amiga no Face. Lembra dela, pai?
— Não. Embora ela se pareça muito com uma coleguinha sua. Só que a outra era morena e não tinha a comissão de frente dessa loura.
— É ela mesma, pai. Sabe como são as mulheres.
— Ah!… Puxa, ficou linda! Paulo, vocês são só amigos? No meu tempo, eu não deixava escapar um broto assim. Quando vocês saírem de novo, traz ela aqui. Adoraria revê-la.
— A gente não sai.
— Ué? Você não disse que estão se relacionando? Não é sua amiga no Fake… Como é mesmo o nome?
— Face. Facebook. Faz mais de quinze anos que não a vejo pessoalmente. A gente se reencontrou on line e virou amigo virtual.
— Quer dizer que ela nem te convidou para essa festinha aí?
— Não, pai. Mas, mesmo assim, eu curti.
— E que graça tem isso?
— Pai, as coisas hoje são um pouco diferentes.
— Nisso você está certo. A propósito, meu filho, pelo visto, seus amigos são pessoas muito boas. Amam animais, se preocupam com o planeta, têm sempre uma frase inteligente para citar. Também sabem aproveitar a vida. Se alimentam bem e vivem em festas e viagens fantásticas. Mas, sinceramente, apesar de tantos sorrisos, achei-os muito sem graça. Ô povinho chato! Desses aí, só queria mesmo ter contato com a Heleninha. Filho, dá para você colocar de novo na página do Gugu e buscar o telefone dessa princesa? Essa eu curti!

(Primavera de 2014)

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Foto: Google Imagens