É ou não o sonho de consumo de muitos fofos? A novidade está chegando ao Brasil e deve custar em torno de R$ 7.000,00. Verdade que, muitas famílias, se pagarem esse valor por um eletrodoméstico, pouco vai sobrar no orçamento para as compras do mercado. E isto, de certa forma, pode refletir na balança. Mas isso é outra história e outro consumidor.
Olho com curiosidade a foto da reportagem e não vejo nada semelhante a correntes ou armadilhas para afastar os gulosos. Será que ela tem um sistema parecido com os dos cofres de banco? Só abre em horas determinadas? Então, após o jantar, por exemplo, a rainha da cozinha se fecharia em copas. Quem jantou, jantou. Quem não comeu, se tentar abrir a porta da dita cuja, ouviria sua voz: “Perdeu! Perdeu!” E, no caso, isso pode significar menos alguns quilinhos. Huuummm… Interessante!
Mas, mal começo a me deliciar com a matéria sobre esta maravilha, descubro não ter travas nem dispositivos para acionar alarme contra quem for pegar o resto da pizza de ontem. O eletrodoméstico, na verdade, vem com um aplicativo instalado — “app” no idioma informatês. Nele, há conselhos de nutricionista e programas para elaborar cardápios diários de acordo com o perfil e o objetivo do emagrecimento, inclusive sugerindo receitas para isto.
Oi? Então, a geladeira que emagrece — ou geladeira inteligente, como está sendo chamada —, é apenas um trambolho com um sistema para dizer o que a maioria das pessoas já sabe? Atire o primeiro brigadeiro quem não percebeu uma maçã como menos calórica do que uma porção de batatas fritas.
Se tudo se resume a um software, ele deveria ser mais interativo. Por favor! A tecnologia já é capaz de soluções mais avançadas. Por exemplo: a porta ser equipada com um sensor capaz de identificar, pelo toque, o usuário. Então, com base em dados anteriormente registrados, estaria apta a conversar com o guloso e tentar dissuadi-lo de comer.
Não é preciso dizer da necessidade de ser dona de uma “personalidade” forte e fria como gelo para com os gordinhos ou aqueles que compensam no excesso de comida qualquer dissabor. Assim, quando a adolescente cheia de espinhas abrisse a porta, seria repreendida por uma voz metálica.
— Pense antes de comer esse chocolate. Sua pele está horrível. Vá enfiar a cara nos livros. O vestibular está na porta! Não é me abrindo toda hora que você vai ter uma luz sobre qual profissão escolher!
A voz, ártica ou antártica, teria de ser implacável com todos. Até mesmo com as chamadas mulheres-frutas.
— O Carnaval está chegando. Olha a gula aí, geeennnte! Você quer sair de Rainha da Bateria ou Rainha Momo?
Os machões também ouviriam uma bronca dela.
— Só porque seu time perdeu vai beber todas? Quer virar uma bola? Pula fora! Se encostar em mim é pênalti. Já para o chuveiro!
Dura como aço, nem as crianças teriam refresco.
— Se continuar no refrigerante, vai virar o gordo da turma. Depois, não vem reclamar de ter sofrido bullying. E sem essa de que é só uma beliscada. Esse papo nunca acaba em frutas e verduras. É sempre coisa de pizza pra cima. Vaza!
Versões mais sofisticadas poderiam se expressar com mais profundidade.
— Vai comer só porque está ansiosa? Esse cara não vale o que você vai pesar. Desde que começaram o namoro, não passa uma semana sem você descompensar. Haja compressor! Já falei, vou repetir: termina logo esse relacionamento! Você está numa tremenda fria.
Pois é! Para mim, só se viesse equipada com um pouco de calor humano a geladeira poderia ser chamada de inteligente. Fora isso, qualquer equipamento com aplicativos contendo dicas de nutricionista e cardápios é apenas um eletrodoméstico com frescura.
(Primavera de 2014)
Martha Gonzalez escreve, quinzenalmente, aos domingos.
Foto: Google Imagens