Na última quinta-feira, às 10h05, dona Ana, zeladora do condomínio, disse ao síndico:
– O relógio sumiu!
– Que relógio, gigante?
– O que fica aqui em cima do extintor. – Ela se referia ao relógio de parede do hall dos elevadores.
E não é que tinha sumido mesmo? Até o prego o larápio tinha levado… Ai ai ai… Roubam tudo, até relógio de parede!
Lá foi o síndico verificar as filmagens da câmera de segurança. Deve ter sido algum moleque durante a madrugada. Ele se lembrava de ter checado o horário às 20h10, quando trocou os elevadores. Alguém, nas gravações, apareceria esticando os braços entre as 14 horas de intervalo.
E lá se vai paciência… É gente chegando da balada, é criança dormindo no colo dos pais, é velho, é novo, é visita, é homem, é mulher, é família… Mas ninguém esticando os bracinhos.
Sobravam duas horas. Às 8h02, começava uma mudança. Era o morador do 204, que foi morar na Praia do Canto. (Até que enfim, só me dava problema!)
O elevador de serviço foi disponibilizado. E vai descendo caixa… Dois carregadores pra lá e pra cá. Empilha tudo ali, ó, perto do extintor de incêndio.
Caixa sobre caixa e lá vai mais pilha. Braços de carregador esticavam, mas o relógio? Nem sinal.
Eram 9h50 na fita. Lá vai fogão, geladeira, colchão… Pe-peraí! Colchão? Ora, ora… Cadê ele tirando o colchão?
Ah, danado! Era um colchão box branco, o relógio também, mas a borda redonda preta era visível!
O relógio caíra sobre a lateral do colchão, que foi carregado de pé até o carreto às 10h03. Naquele mesmo instante, outra câmera de segurança registrava o colchão sendo girado e o relógio caindo no chão. O que fez o carregador? Juntou o item na mudança…
– Dona Ana, preocupa não. Desvendei o mistério! O ladrão tinha 1,88 m de altura e 1,28 de largura, era caucasiano, macio, mas não teve intenção.
(Março, 2016)
Ilustração da autora