No dia 25 de janeiro, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim teria completado 90 anos. E eu aproveito a data para lembrar um encontro mágico que tive com o grande compositor, maestro, pianista, violinista, cantor e arranjador.
Isso se deu no final dos anos 1980. Estava eu iniciando a carreira de repórter na antiga TVE, do Rio de Janeiro, hoje TV Brasil. Ao receber a pauta, talvez não tenha me dado conta da enorme responsabilidade. O tema da reportagem era o lançamento do songbook de Almir Chediak, com as canções de Tom Jobim.
O carro da TV estacionou em frente ao antigo People, no Leblon, bairro da Zona Sul do Rio. Dentro do bar, no mezanino, sentado a uma pequena mesa, com um copo de uísque em frente, lá estava ele: o próprio.
Eu e o cinegrafista subimos a escada para fazer a entrevista. Não lembro se as minhas pernas cambalearam, se a mão tremeu ao segurar o microfone, se a voz falhou… Não recordo se, naquela época, eu tinha a dimensão exata de quem estava diante de mim.
Ele foi muito simpático. Tinha os olhos um pouco avermelhados, provavelmente por causa do álcool (não imagino quantas doses já tinha bebido), fez um comentário sobre estar sendo entrevistado por uma repórter novinha e bonita — o que me deixou orgulhosa e, ao mesmo tempo, envergonhada.
Na minha memória, consigo ver com clareza a cena. Sinto até a iluminação difusa e amarelada do bar. Mas… Não tenho nem uma selfie! Tudo bem que, na época, não se usavam celulares. Não ter pedido um autógrafo? Imperdoável, Cristina!
Em toda a minha vida de repórter, não me lembro de ter feito uma entrevista com alguém que eu admirasse tanto. Entrevistei Marisa Monte, no início da sua carreira, mas foi uma espécie de coletiva, com vários repórteres segurando o microfone em direção à artista, sentada na beira do palco do Canecão, também no Rio. Não chegou a provocar um frenesi.
Tenho uma foto com Alceu Valença, um desenho autografado pelo Zózimo, já recebi um abraço do Paulinho da Viola e até um beijo carinhoso do Júlio Iglesias (entrevistei o cantor, de passagem por Vitória, sentada na escada do seu jatinho particular). Porém, nenhum desses momentos me marcou tanto quanto aquele encontro com Tom Jobim.
Foto: Agência Estado