Ao deixar a sala de exposições temporárias do Museu Nacional de Belas Artes, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, dirigia-me à porta de saída quando uma cena me chamou a atenção. Um homem, agachado ao chão, tentava resgatar um bichinho.
Aproximei-me e ele me mostrou o inseto. Sobre um folheto de divulgação do museu, um minúsculo ser vivo, com oito finas e longas patinhas e o corpo pintado de bolinhas brancas sobre um fundo preto (ou seria o contrário? Mesmo de óculos, não deu para distinguir as cores com exatidão).
Era realmente lindo, o bichinho. “Depois de ver tantos trabalhos artísticos, eis-me diante de uma verdadeira obra de arte. A Natureza é incomparável”, pensei.
A intenção do resgatador era — claro! — devolver o inseto ao meio ambiente. Minha sugestão foi colocá-lo no tronco de uma árvore. Mas o homem achou melhor deixá-lo no jardim do canteiro central da Avenida Rio Branco. Senti que não era a melhor opção, mas o acompanhei.
Dito e feito. O bichinho saiu do papel e tentou se equilibrar sobre as folhinhas, pouco maiores que ele. Desajeitado, não parecia nem um pouco à vontade em uma superfície não plana. Em vez de se embrenhar na matinha em busca de um cantinho seguro, continuou andando em direção à rua.
— Olha! Ele está vindo para os trilhos. Vai ser atropelado pelo VLT — previ.
— Você tem razão. O melhor lugar é mesmo a árvore — concordou o socorrista.
Na ânsia de dar um melhor destino ao inseto – e antes que fôssemos atropelados pelo novo bonde da Cidade Maravilhosa -, com cuidado, o homem fez novo resgate, reaproveitando o folheto.
Depois, aproximou o papel de uma árvore e o bichinho — agora, sim! —sentiu-se em casa: seguiu na vertical, ligeirinho e feliz, e logo adquiriu a cor do tronco. Camuflado, foi subindo, subindo…, até desaparecer diante de nossos olhos.
Quando o perdi de vista, despedi-me do homem. Ele fez um comentário: “Os insetos são importantes para o equilíbrio do meio ambiente, temos que preservá-los”. E lembrei uma notícia lida, recentemente, na Internet, sobre abelhas fazendo parte da lista de animais em extinção. A que ponto chegou a humanidade!
Segui meu caminho pela avenida com uma pontinha de orgulho. Eu e aquele desconhecido havíamos contribuído, ainda que minimamente, para evitar o desaparecimento de um espécime.
(Outubro, 2016)
Foto: Portal do Instituto Brasileiro de Museus